domingo, 3 de agosto de 2008

Serpentes pets?e isso mesmo!


Ter uma serpente em casa como bicho de estimação pode parecer bastante estranho para a maioria das pessoas. Mas o fato é que cada vez mais esses antiqüíssimos répteis, cuja evolução tem origem nos lagartos, invadem os lares de quem procura por uma companhia diferente. Nos Estados Unidos, o convívio doméstico com serpentes pets - termo americano que designa bicho de estimação - cresce a passos largos. Há uma verdadeira indústria sendo movimentada em torno desse mercado. Existem inúmeros pet shops especializados em répteis que oferecem tudo e um pouco mais daquilo que é necessário para manter uma serpente feliz. Além das próprias serpentes, encontram-se terrários ideais com imensa variação de apetrechos decorativos, diversos tipos de alimentação e complementos vitamínicos. Robrey MacGuiness, proprietário de um desses paraísos para amantes de répteis, atesta: "Só na Flórida há mais de vinte lojas onde se pode achar um mundo de acessórios." No jornal publicitário Pet Product News PSM, dos EUA, a quantidade de propagandas anunciando produtos ligados ao setor surpreende aqueles que passam ao largo do sucesso desse hobby emergente. Tem de tudo. Ratos congelados para o banquete da mascote. Vídeos e livros didáticos que ensinam cuidados básicos sobre a alimentação, a saúde, o manuseio e o tratamento. Novidades em acessórios específicos, além dos próprios pets shops que divulgam os serviços de importação e exportação das serpentes. Existem revistas especializadas em répteis e em anfíbios. A maior delas, a Reptiles, com periodicidade mensal, tem três anos de vida. Com uma tiragem fantástica de 120 mil exemplares e cerca de 70 mil assinantes, as suas aproximadamente 120 páginas reservam 40 exclusivas para as serpentes - ou seja, um terço da publicação. Apresenta artigos variados. Desde assuntos ligados à vida desses animais no habitat natural, aos cuidados e a criação em cativeiro até ensaios fotográficos dos répteis em seus países de origem e perfis de pessoas famosas que optaram por esses exóticos rastejantes como companheiros, entre eles a Madonna e o ator Danny De Vitto. A última página é destinada aos leitores que contam curiosidades e histórias engraçadas sobre o convívio com répteis de estimação, como fugas do terrário e visitantes que levaram grandes sustos. Em entrevista a Cães & Cia, o editor chefe da Reptiles, Phillip Samuelson, estimou que 60% dos assinantes são proprietários de serpentes, comprovando que apreciadores não faltam para aquecer esse mercado.


Medo versus docilidade


Ter uma serpente exige antes de mais nada um requisito essencial por parte do candidato a proprietário. Ele deve necessariamente pertencer à minoria da população que não nutre algum sentimento de repulsa em relação a tais animais, seja medo, nojo ou aflição. Não é de estranhar que esse fator, ainda que pouco a pouco vá amenizando a sua força, seja o maior obstáculo para a popularização deles como pets. Um dos proprietários de uma das grandes lojas especializadas em répteis em Nova York, nos EUA, Dan Ferrena, em entrevista ao jornal Pet Products PSM, traçou o perfil de quem opta por esse animal. "O nosso cliente é aquele que deixou no passado todos os medos e mitos que envolvem as serpentes", comenta. "Ainda há muita gente que as considera demoníacas ou coisas assim. Esse é sem dúvida o nosso maior complicador, mas que pode ser sanado com um mínimo de conhecimento sobre a vida desses animais." Outro dono de um pet shop americano, Mike Hoffer, que trabalha com a venda de serpentes há mais de vinte anos analisa que o crescimento da procura por esses répteis vem em grande parte da maior "educação" sobre eles que vem ocorrendo nos últimos tempos. "A aceitação cada vez maior das serpentes, assim como dos lagartos e dos anfíbios é o resultado dos vários programas educativos da televisão, que são veiculados com freqüência e nos quais se esclarecem os hábitos e a importância deles no ambiente", fala. "Isso melhora a reputação desse bichos e aumenta a sua comercialização."


É bom mesmo que tais programas garantam espaço, pois a cultura ao medo de serpentes nasceu junto com a humanidade. O que não faltam são lendas para difamá-las. Sonhar com uma, por exemplo, é tido na crença popular como sinal de traição. Sem falar nos incontáveis mitos e superstições que as acompanham ao longo das civilizações. Na história da Criação, Adão e Eva foram seduzidos pela serpente, que virou sinônimo do demônio. Foram também muito associadas a causas de doenças. Alguns povos antigos acreditavam que as pessoas enfermas estavam com o "espírito da serpente incorporado". Tanta fantasia tem lá a sua razão de ser. Afinal, existem serpentes venenosas que desde sempre representaram uma ameaça em forma de armadilha ao homem. Camufladas na mata, podem pegar qualquer um de surpresa. Como a distinção entre espécies perigosas e não perigosas é coisa de especialista, o medo generalizou-se para toda e qualquer serpente. Mas não é bem assim. Só para dar uma idéia, das aproximadamente 2700 espécies existentes no mundo, cerca de duas mil não são consideradas venenosas. Ou seja, por volta de 74% não oferecem risco ao homem. Tanto que parte delas hoje virou pet. Vale registrar, que as serpentes sempre colaboram para o planeta não estar insuportavelmente infestado de ratos. Esses sim, proliferadores de doenças extremamente perigosas ao homem.



Ambiente ideal


O ambiente ideal para uma serpente é aquele que melhor reproduz as condições do habitat natural. Como são animais de sangue frio e imprescindível a instalação de uma fonte de calor. Há várias opções no mercado. As mais comuns são as rochas aquecidas, ou seja aquecedores disfarçados de pedra, cuja vantagem sobre outros equipamentos de gênero é apenas de ordem estética. A temperatura do terrário não deve ser inferior a 20 graus, sob pena de colocar a saúde da serpente em jogo. Use um termostato para controlar isso. A fonte de calor não é desligada nunca. De preferência, é colocada em uma das extremidades do terrário. Na outra, para contrabalançar a área quente, é preciso uma fonte de umidade. Basta colocar uma vasilha de água, feita de algum material, como plástico ou cerâmica. Como existem serpentes originárias de regiões mais ou menos úmidas, o grau de umidade relativa do ar necessário varia em função da espécie (veja quadro Serpentes de Estimação), e deve ser adequado, aumentando ou diminuindo a quantidade de água. Daí a importância de um higrômetro, aparelho medidor de umidade, encontrado em pet shops. A iluminação deve ser semelhante à luz solar, com emissão de raios UV-A e UV-B. O ideal é equipar o terrário com lâmpadas fluorescentes, que oferecem ambos os raios. As incandescentes, também encontradas no mercado, só emitem os UV-A . À noite, devem ser desligadas. Serpentes gostam de ficar escondidas, principalmente as de hábitos noturnos. Não deixe de construir um abrigo e de colocá-lo próximo à fonte de calor. Pode ser feito com cascas de eucaliptos, mas existem cavernas aquecidas específicas para isso. A forração do terrário varia em função do gosto do proprietário. Jornal, pedrinhas ou areia, tudo vale. Só não se usa serragem. A serpente ao se alimentar pode engolir pedaços pontiagudos, machucando as mucosas internas. Marcus Buononato indica uma regra prática para determinar as medidas ideais do terrário em função do tamanho da serpente adulta. A largura e altura devem ser iguais à metade dela. O comprimento nunca deve ser inferior ao da espécie. O mais recomendável é que seja 50% maior. "Com essas medidas, é possível abrigar até um casal", fala. O mais comum é que o terrário seja um aquário, do tipo usado para peixes. A tampa é de tela resistente, para permitir a respiração. Para serpentes muito grandes, aquelas que ultrapassam os dois metros, o melhor é optar por um alambrado, como um viveiro para pássaros. Caso fique ao ar livre, não é necessária a iluminação artificial. Cubra parte do teto com algum material transparente como telha plástica ou de fibra de vidro. A outra, deixe apenas com a tela. Assim, existe a opção de a serpente tomar chuva ou banhos de sol. Seja um "aquário" ou um "viveiro", não esqueça de colocar uma trava no local por onde é aberto, para evitar fugas. A ornamentação fica a critério de cada um. Pode-se usar plantas de interiores ou galhos secos, que são úteis por cumprir três funções. Além de decorar o ambiente, permitem que a serpente se exercite e se esfregue para auxiliar a troca de pele, que ocorre várias vezes por ano.



Boideos


É a família mais primitiva de serpentes, cujos fósseis indicam sua existência no período cretáceo, há cerca de 146 milhões de anos. Apresentam até hoje vestígios de membros posteriores, chamados de unhas ou esporões na linguagem popular, situados ao lado da cloaca. Comprendem cerca de 95 espécies, entre elas as ditas serpentes gigantes, as maiores do mundo. Todas apresentam a dentição áglifa. Isto é, ausência de dentes maiores (cientificamente denominadas de presa de veneno ou dentes diferenciados). Por isso não são consideradas peçonhentas. São serpentes pouco ativas durante o dia. A gravidez dura entre 5 e 6 meses.



Colubrídeos


É a família mais numerosa entre as 11 existentes. Abrange mais de 2 mil espécies no mundo. Ou seja mais de 74% do total estimado de 2700. Apresentam dentição áglifa, como nos Boídeos, ou opistoglifa. Isto é, o dente maior e inoculador existe, mas é situado bem no fundo do maxilar, o que dificulta a inoculação do veneno. São classificadas como não peçonhentas. A gravidez perdura entre dois e quatro meses.


Phyton Burmese


Ela é a maior das serpentes usadas como pets. Há exemplares que ultrapassam 8 metros, ainda que isso leve mais de dez anos. Nascem com 30 ou 35 centímetros. No segundo ano, já atingem a marca dos 1,80 metros. Até alguns anos atrás ela ocupava o lugar da Ball na preferência dos americanos. Pelo tamanho avantajado e baixíssima agressividade, é muito usada em shows e espetáculos. Encontrada nas florestas indianas, é de hábitos crepusculares. Devido ao tamanho gigantesco, é melhor que viva em terrário externo. A umidade relativa deve girar em torno dos 80%. É aglifa e ovípara, botando até 30 ovos.


Alimentação aproximada por semana:


filhote: 1 camundongo adulto


1ano: 2 ratos adultos


após 2 anos: 9 ratos ou 3 coelhos.



Phyton Ball Africana


Essa serpente, segundo Robrey Macguiness, dono de um dos maiores pet shops especializados em répteis nos EUA, é a mais vendida como bicho de estimação por lá. Tranqüila, disputa com a Burmese, o título de mais receptiva ao manejo. No entanto, conforme disseram os entrevistados americanos, é também a que mais se estressa em cativeiro. Por isso é bom ficar de olho, pois ela pode recusar comida por meses e acabar doente. Originária de países do Centro-Oeste africano, tem a característica de se enrolar e colocar a cabeça no centro do corpo, como se fosse uma bola (veja a foto). Daí o nome "ball", que em inglês é bola. Nasce com cerca de 20cm. Ao final do primeiro ano já mede por volta de 65cm. O comprimento máximo é entre 1,10 e 1,20m, o que a torna uma das menores Pythons das quais se tem notícia. Apresenta dentição áglifa. É ovípara e coloca de 4 a 7 ovos. A umidade relativa para o seu terrário deve ser próxima aos 60%.


Alimentação aproximada por semana:


filhote: 1 camundongo jovem


1 ano: 2 camundongos adultos


após 2 anos: 2 ratos adultos.


Jibóia



Existem duas subespécies de jibóia. São as mais comuns como serpentes pet no Brasil. Por existirem em nossa fauna, é proibido tê-las em cativeiro, a menos que se consiga autorização do Ibama. Entre as serpentes abordadas nessa reportagem é a segunda de tamanho maior, só perde para a Burmese. No Brasil, também recebe o segundo lugar em gigantismo, entre as cerca de 230 espécies que temos. Nasce com cerca de 30cm. Alcança 90 no primeiro ano e pode ultrapassar os três metros. Acostuma-se facilmente ao manuseio. Por isso, a exemplo da Burmese é bastante solicitada para shows. A subespécie que habita o Sul e Sudeste prefere umidade ao redor dos 60%. Já a amazônica requer umidade de 80%. Alguns biólogos as consideram vivíparas e outros, ovovivíparas. Podem ter de 30 a 60 filhotes, embora menos da metade atinja a maturidade sexual. A dentição é áglifa.
Alimentação aproximada por semana:


filhote: 1 camundongo jovem


1 ano: 2 ratos adultos


após 2 anos: 3 ratos ou 1 coelho.


King Snake ou Milk Snake


Essas são espécies de hábitos ofiófagos, ou seja, que comem também outras serpentes. São as mais ativas entre as serpentes abordadas nessa reportagem. Daí o editor chefe da revista Reptiles, Phillip Samuelson, dizer que são indicadas para quem quer uma serpente que se movimente bastante, em vez de ficar paradona. Englobam cerca de sete espécies. Geralmente possuem colorido brilhante. Algumas com anéis negros, brancos, vermelhos ou amarelos, lembrando as famosas corais. Conhecidas também como North American King Snakes, são achadas desde o Sudeste do Canadá até o Sul do México. São as que mais estranham a manipulação humana. Daí a maior importância de acostumá-las com isso desde pequenas. Nascem com cerca de 25cm. Com um ano beiram os 80 e quando adultas podem chegar perto de dois metros. São ovíparas. Colocam de 10 a 30 ovos. A dentição é opistoglifa, e a umidade ideal é de 70%.


Alimentação aproximada por semana:


filhote: 1 camundongo recém-nascido


um ano: 2 camundongos jovens


após dois anos: 3 camundongos adultos


Corn Snake


Nome genérico dado a cerca de 24 espécies, muito encontradas nos milharais dos campos norte-americanos, canadense e mexicanos. Por isso são chamados de corn, que significa milho em inglês. Foram as primeiras serpentes comercializadas como pets nos EUA, pois se reproduzem muito facilmente em cativeiro. Ativas, movimentam-se mais no período da manhã. A umidade ideal é de mais ou menos 60%. Nascem com aproximadamente 25cm. As adultas podem chegar a 1,80m, mas o comum é que não passem de 1,5. Têm dentição áglifa. Ovíparas, botam até 20 ovos.
Alimentação aproximada por semana:


Igual à da King.





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